As imobiliárias de bairro enfrentarão concorrentes de peso no mercado de compra, venda e aluguel de imóveis usados neste ano. Grandes grupos nacionais e internacionais criaram unidades para oferecer franquias imobiliárias no Brasil nos últimos meses. A estruturação da maioria das operações foi em 2009, mas será neste ano que essas redes planejam dar força a sua expansão.
PRIMEIROS FRANQUEADOS SÃO PEQUENAS IMOBILIÁRIAS
Esses grupos querem dominar o mercado de compra e aluguel de imóveis usados, hoje pulverizado entre imobiliárias regionais e de pequeno porte. Este segmento representa cerca de 75% do volume de negócios do mercado imobiliário brasileiro, segundo estimativas do diretor-executivo do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Celso Petrucci. “A cada imóvel novo vendido, outros cinco ou seis usados são comercializados”, diz.
Dois grupos internacionais são destaque nesta disputa. A Century 21, rede americana de franquias imobiliárias, foi a primeira a chegar no Brasil. Presente em 68 países, ela lançou a primeira unidade em dezembro de 2008 e hoje têm 31 contratos assinados e 15 imobiliárias abertas. Já a também americana Re/Max, que está em 78 países, iniciou suas operações no Brasil em outubro do ano passado e já tem 42 contratos fechados e cinco lojas abertas. Cada uma dessas redes planeja negociar pelo menos cem unidades no Brasil neste ano.
Grupos brasileiros também estão de olho neste mercado. Há cerca de um ano, a Lopes criou a Pronto!, sua unidade de franquias para o setor de imóveis usados. Já a gigante Brasil Brokers comprou, no ano passado, a mineira Rede Morar e abriu uma linha de franquias para a empresa, que iniciará sua expansão para São Paulo e Rio de Janeiro neste ano.
MARCA FORTE
O setor imobiliário participará com esses grupos de um negócio bilionário no Brasil, que já está consolidado em outros ramos, como alimentação e beleza. As franquias somaram no ano passado 1460 redes no Brasil, com cerca de 75 mil unidades e um faturamento total de R$ 63 bilhões, de acordo com o diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), Ricardo Camargo. Mas, segundo dados da ABF, apenas quatro dessas redes são imobiliárias, o que significa que há grande potencial de expansão neste segmento.
A crise internacional provocou queda no volume de venda de imóveis no exterior e aumentou o interesse pelo mercado brasileiro. “As franquias imobiliárias são um negócio novo no Brasil, que ganhará corpo neste ano. Com uma escala maior e custos menores, a tendência é que as redes tomem conta deste mercado em detrimento de empresas menores”, diz Camargo.
Petrucci concorda que a tendência no mercado brasileiro é a criação de redes de imobiliárias, com o compartilhamento da carteira de imóveis e divisão de comissões. Nos Estados Unidos, cerca de 95% dos negócios imobiliários são feitos desta forma, afirma Petrucci.
“Mas isso não significa que haverá uma corrida descontrolada para adotar a bandeira de franquias entre as imobiliárias. As pequenas empresas vão conviver com as grandes redes neste setor.” Para ele, muitos brasileiros têm paixão pelo seu negócio e devem resistir em migrar para uma franquia.
Os primeiros interessados em abrir unidades de franquias imobiliárias no Brasil são empresários, trabalhadores ou investidores que já atuavam no setor de imóveis, segundo as empresas consultadas pelo iG. Os desejos de abrir um negócio próprio ou de participar de um grande grupo são os principais atrativos para os franqueados.
PROFISSIONALIZAÇÃO DEVE MELHORAR ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR
Após 16 anos à frente de uma imobiliária que levava seu sobrenome em Vitória (ES), a família Milanez migrou para a rede de franquia internacional Century 21 no fim do ano passado. A decisão veio depois que a empresa perdeu corretores para imobiliárias maiores, afirma o empresário Lorenzo Milanez. “Percebemos que não podemos ficar isolados. É preciso fazer parte de um grande grupo”, diz.
Quatro meses depois de aderir à franquia, a imobiliária de Milanez conta com oito corretores e 36 imóveis à venda com exclusividade. Antes de entrar para a rede, a empresa tinha quatro corretores e entre três e cinco imóveis exclusivos. “A exclusividade na venda é o objetivo de toda a imobiliária. A marca forte é que permitiu isso.”
A segurança de uma marca internacional foi o que motivou o empresário Eduardo Rosa a abrir seu próprio negócio - uma franquia da Re/Max no bairro Santana, em São Paulo. Rosa trabalha há dez anos em construtoras, mas não queria enfrentar o risco de criar uma empresa com uma nova marca. “Dentro da franquia, o risco e o custo de abrir uma imobiliária são menores. É como se fosse um McDonald’s”, afirma.
INVESTIMENTO E MANUTENÇÃO
O valor do investimento é outro atrativo, tanto para os investidores do mercado imobiliário quanto para os interessados em franquias de todos os setores. O custo inicial para uma franquia imobiliária varia entre R$ 30 mil a R$ 290 mil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e das empresas do setor. Franquias de outros segmentos exigem um investimento maior, em geral. Marcas como Pizza Hut, O Boticário e Spoleto, por exemplo, custam, no mínimo, R$ 1 milhão, R$ 150 mil e R$ 355 mil, respectivamente.
A taxa de royalty da franquia varia para cada rede. A Re/Max e a Century 21, por exemplo, cobram cerca de 7% do faturamento. Já a Rede Morar adota tarifas mensais fixas, de R$ 2.000, no primeiro ano do negócio, e de R$ 3.000, no segundo.
A consolidação das redes de franquia no ramo imobiliário pode deixar mais fácil o processo de escolha e compra de imóveis para o consumidor. O diferencial dessas redes é usar sua escala para reunir imóveis de várias cidades do país e do mundo em um banco de dados integrado. Os clientes podem realizar operações de compra, venda ou locação em qualquer imobiliária da rede. As comissões são divididas entre as empresas conforme regras de cada franquia.
Com esse sistema, o cliente pode otimizar seu tempo na procura de imóveis, diz Wilame Lima, coordenador da marca Century 21 no Brasil. Será possível, por exemplo, procurar apartamentos em diferentes bairros da cidade na mesma imobiliária ou alugar uma casa de veraneio em outro Estado em qualquer unidade de uma franquia.
Outra promessa das redes de franquia é oferecer um atendimento profissional, dentro de padrões internacionais, para os consumidores em todas as suas unidades. Essa carência de atendimento profissional foi o que motivou a Re/Max a abrir uma representação no Brasil.
A franquia master da rede foi lançada no país por três sócios ligados ao ramo de imóveis novos, que viram uma oportunidade no segmento de usados. “O segmento de lançamentos já está bem estruturado no Brasil, mas o de usados não. Hoje o consumidor passa por até dez imobiliárias para comprar um apartamento usado. É um percurso trabalhoso, no qual se encontra corretores de todos os perfis. Há uma grande oportunidade neste setor”, afirma Renato Teixeira, presidente da Re/Max Brasil.
As redes também querem atrair os clientes com o uso de marcas fortes. “Nós temos agora imobiliárias ligadas a grandes grupos, alguns com capital aberto, como a Brasil Brokers. Isso gera mais confiança para o consumidor”, diz Haldane Teixeira, presidente da Rede Morar, do grupo Brasil Brokers.
FINANCIAMENTO HABITACIONAL
Além de facilitar a busca por imóveis, as franquias também querem oferecer um canal de crédito imobiliário aos clientes. A mais avançada neste sentido é a Pronto!, divisão de imóveis usados da Lopes, que criou uma empresa especializada em crédito imobiliário, a Credipronto!, em parceria com o Itaú Unibanco. Um sistema integrado entra a imobiliária e a financeira permite aos clientes simular os financiamento dos imóveis que buscam no site da Pronto!. Com cerca de um ano de operação e a promessa de liberar o crédito em até 15 dias, a Credipronto! emprestou R$ 200 milhões em 2009 para financiamentos habitacionais.
As marcas internacionais Re/Max e Century 21 ainda não possuem parcerias no Brasil para oferecer crédito imobiliário a seus clientes. Hoje, elas apenas orientam os consumidores sobre como obter os empréstimos, mas planejam aprimorar a área de financiamento no Brasil no futuro.
FONTE: Estadão
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