quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Investimentos mudam os bairros de Belém

O espaço urbano é dinâmico, vivo e interativo. Ao longo dos anos, se pudéssemos dar uma pausa na carreira do dia-dia, perceberíamos como as esquinas de nossas ruas ou a praça que fica no centro da cidade mudam decara. As mudanças ficam ainda mais perceptíveis se compararmos a paisagem de uma cidade em fotos tiradas em décadas bem distintas. É curioso perceber, por exemplo, bairro como a Cidade Velhas, em Belém, que se modernizaram e hoje são áreas nobres e disputadas.

Essas mudanças são fruto de ações de diversos agentes, ou seja, o espaço urbano é resultado de processos socias, fabricados dentro de um contexto histórico. Segundo a professora Simaia Mercês, pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), a forma e o conteúdo dos bairros estão vinculados a interesse de diversos grupos sociais.

A Cidade Velha (o mais antigo bairro de Belém) e o Arsenal são dois dos bairros que mais têm passado por esse tipo de mudança. São transformações que já podemos observar, além das previstas. "Esses dois bairros, em particular, estão sofrendo mudanças a partir da instalação de equipamentos urbanos e de implantação de infra-instrutura pelo Estado, como o Mangal das Garças, a Estação das Docas, a Casa das Onze Janelas e o Portal da Amazônia", explica.

O Arsenalfoi um dos primeiros bairros da cidade. A famosa praça com os canhões teve, primeiro, o nome de Largo Bajé, dado pelos religiosos da Coveição da Beira do Minho, convento localizado em frente ao logradouro. Quando eles foram expulsos, tanto o largo quanto o convento passaram a ser da Coroa Portuguesa. Em 1761, o convento virou hospital militar e, mais tarde, arsenal da marinha, de onde veio o nome da praça e do bairro.

Hoje, respirando história, o bairro do Arsenal é sede de grandes empreendimentos e, também, de muita especulação. Com a chegada da modernização ao bairro, a população deverá sair ganhando, já que as melhorias na urbanização serão um processo natural e ocupação. Ruas asfaltadas, calçadas recuperadas e a instalação de serviços essenciais, como bancos e farmácias, estão garantidas.

Segundo a professora Simaia, que atualmente cordena o curso de especialização " Cidades na Amazônia: história, ambiente e culturas ", nos últimos anos, no centro de Belém, o bairro que teve a paisagem mais modificada pelo mercado imobiliário formal foi o Umarizal, mais especificamente o baixo Umarizal. Essas mudanças de devem, em grande parte, a a[cões feitas em anos anteriores na infra-instrutura da área.

Contribuem para essas mudanças, poe exmplo, as construtoras, que nos últimos anos ampliaram consideravelmente a oferta de moradia na capital. São, como chama a professora, "os detentores de capitais industriais e comerciais, que demandam terrenos para desenvolver suas atividades". Ao lado deles, estão os proprietários fundiários, a quem interessa a valorização de seus terrenos.

Outro ramo da atividade imobiliária, o de incorporação e construção, que busca novas áreas ao mercado e a transformação de outras, também contribuem para a mudança desse cenário. Além disso, o próprio Estado dá sua contribuição, já que, entre diversas ações, regula o uso e a ocupação do solo através de leis e normas e, com investimento de recursos públicos, constrói habitações populares e dota os bairros de infra-instrutura, de equipamentos e de serviços urbanos.

Mas como os nossos empreendimentos imobiliários podem estimular a reordenação do espaço físico ao redor? Para a especialista do NAEA, as empresas poderiam buscar formas de investir na melhoria do espaço público no entorno de seus empreendimentos, desonerando o Estado do encargo de valorização de determinadas áreas. "É preciso também atentar para os efeitos negativos que esse crescimento pode trazer", ressalva.

O crescimento desordenado da cidade pode ocasionar problemas típicos das grandes metrópoles, como o aumento do tráfego de veículos e da violência, poluição e a transformação simbólica do espaço público. São coisas, no fim das contas, avalia Simaia, diminuem a qualidade de vida da população e levam a situações que podem até inviabilizar a própria lucratividade do setor.

fonte revista Chão & Teto

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